quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Vale a pena ver de novo - Jeitosinha em: A Reação de Ambrósio (Cap. XXIII)

Capítulo XXIII - A reação de Ambrósio

 
Por trinta segundos, que, pareceram uma eternidade, Jeitosinha e Ambrósio se encararam fixamente. Ela vinha aprendendo no bordel de Madame Mary tudo sobre a arte da dissimulação, e conseguiu camuflar o medo, a surpresa e a confusão mental que lhe causava a imagem ali na sua frente do homem que assassinara.
A expressão de Ambrósio era inocente, quase infantil. O fio de baba intermitente continuava a banhar-lhe o queixo. Com sua voz pastosa, após o constrangedor silêncio, ele perguntou:
- Quem é você?
Jeitosinha suspirou aliviada. Continuava sem entender o que havia acontecido. As marcas de cortes no rosto e braços de Ambrósio indicavam que ela realmente o havia ferido, mas talvez não tivesse consumado o crime, pensou; talvez tenha sofrido alguma espécie de alucinação durante o ataque com a serra elétrica. Talvez Ambrósio tenha conseguido sair da casa, se arrastando.
Mesmo assim, quem limpara o chão e os móveis? Nada disso era tão importante quanto o fato de que o pai, talvez pelo choque de ter sido vitimado pela própria filha, não conseguia reconhecê-la.
- "Deve ser algum tipo de defesa emocional". Concluiu.
Muito mais desconfortável, com a situação estava Arlindo. Seu plano de explorar a irmã se esvaziara, em parte, com a reação do pai ao vê-la. Se Ambrósio não reconhecia Jeitosinha, e havia perdido sua índole opressora, o que a irmã teria a temer?
De fato, a moça não tinha mais nada a perder. Depois da decepção com seu amado Bruno, e todas as emoções que tomaram sua vida de assalto, o futuro se configurava diferente. Ela trocou olhares com Arlindo. Sorriu, superiora, e ele entendeu o recado. Jeitosinha estava livre de sua influência maligna, mas, curiosamente, não pensava em abandonar o bordel de Madame Mary.
A misteriosa mulher que ela mal vira e que não poderia reconhecer sob a máscara, de alguma maneira fez com que recuperasse sua auto-estima. Na casa de encontros a aceitavam como ela era. E agora havia ainda Laura Crowford, a linda ruiva que havia despertado estranhas emoções em Jeitosinha. Ela vinha, aliás, fazendo um esforço sobre-humano para esquecer Bruno, e tentava se apegar à emoção daquela tarde de prazer como se residisse ali a sua salvação.
Se Jeitosinha agora via o bordel como uma benção, isso não significava que ela perdoava Arlindo. Ao contrário, havia planejado para o irmão uma terrível vingança...
Quanto aos pais, o próprio destino havia se encarregado da punição. Ambrósio era agora um ser desprezível, débil e deformado. E sua mãe, que presa a suas convenções sociais jamais encararia a separação, estava condenada a aturar aquele ser repugnante pelo resto de suas vidas. Jeitosinha estava imersa neste tipo de reflexão quando alguém bateu a porta. Arlindo foi atender e deparou-se com uma morena exuberante, de mais ou menos trinta anos. Ela tinha cabelos negros e lisos, a altura dos ombros. Os olhos de um azul cristalino contrastavam com a pele clara. Mostrando um distintivo ela se apresentou:
- Sou a detetive Alessandra, da Polícia Civil. Vim investigar o desaparecimento de Ambrósio.
Todos na casa inclusive, Ambrósio trocaram olhares surpresos.
Do outro lado da cidade, o angustiado Bruno toma sua decisão. Virando a arma em direção à própria cabeça, ele finalmente aperta o gatilho.
 
 
Ele morreu?
Ele morreu?
Descubra lendo mais um capítulo de “Jeitosinha”!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 

About me | Author Contact | Powered By Blogspot | © Copyright  2008